POR UM BRINCAR ANTIPEDAGÓGICO
POR MARCELO CUNHA BUENO – educador, diretor pedagógico da Escola Estilo de Aprender e coordenador pedagógico da Teia de Saberes.
Elaborações de papéis, vivências de contextos sociais, elaboração de sentimentos e sensações... Por isso, pedagogizam esse momento com brincadeiras regradas, com horários e espaços marcados. A criança aprende a brincar seriamente, o professor ensina a aprender seriamente. Há gente que diz que brincadeira é “estímulo”, seguindo essa onda da brincadeira como “ciência do desenvolvimento da personalidade”. Inventam brinquedos educativos, como se houvesse algum brinquedo que não provocasse alguma ação educativa e cultural. Ninguém precisa do brinquedo repleto de cores, repleto de formas e propostas para aprender algo. Mas o mundo de hoje faz isso: inventa discursos apoiados em uma ciência médica para capturar as pessoas, nesse caso, pais, mães e educadores. Essa concepção de estímulo é coisa para focas e leões do zoológico, para brinquedos de plástico, ou coisa que o valha. É coisa desse mundo cheio de contemporaneidades que nos confunde e nos faz acreditar que as coisas simples não têm valor. Havia uma criança na minha Escola que sempre chegava com brinquedos miudinhos ou pedacinhos de objetos que se transformavam em grandes companheiros de desafios e fantasias. Os melhores brinquedos não querem dizer nada com suas formas ou propostas, apenas existem na imaginação de cada um! Nenhuma criança precisa de brinquedos cheios de penduricalhos e de especialidades para ser feliz! Aqui na Estilo de Aprender, a escola que dirijo, as crianças de dois anos brincam muito. No Quintal, na Quadra, com caixotes, tábuas, areia, vão à horta, dão comida aos bichos, brincam de bichinhos, de casinha, “artistam” nas folhas e pelas paredes, escutam música, conversam, cantam, dançam e nos ensinam a ver o mundo com olhares mais infantis... Isso é cultivar a infância como acontecimento, como algo que não está previsto e nem colocado em um lugar específico. Esse acontecimento não pode ser capturado pelos discursos da escola. Brincar é transformar as posições que ocupamos, a de professor, a de mãe, a de pai. Brincar até sermos o que queremos ser... e mudar! Brincar para ler mundos, para inventá-los. Brincar porque é simplesmente bom demais!
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